luz a lagos

11 kms

 

     Nas falésias entre a Praia da Luz e a Ponta da Piedade encontra-se informação particularmente rica sobre o período da história da Terra designado de Cretácico Médio, quando se aproximava a extinção em massa dos dinossauros. Os olhos desviam-se por vezes para a imensidão do mar ou para o verde aromático da vegetação mediterrânica, mas as pedras acabam por reclamar de novo a atenção do peregrino, pelo contraste entre o branco do calcário e o negrume das rochas vulcânicas ou entre a geometria organizada dos estratos e as inesperadas formas esculpidas pela erosão ou pelas deformações tectónicas.

     A poente da Praia da Luz, na Ponta da Calheta, camadas de arenito apresentam fósseis de um pequeno caracol marinho – Nerinea algarbiensis. O desenho de linhas entrecruzadas desta camada indicia as correntes marinhas e a posição da linha de costa há mais de 100 milhões de anos. Mais abaixo, as rochas sujeitas à maré mostram uma interessante rede de fracturas e cavidades escavadas na rocha: são as marmitas-de-gigante. Para nascente da Praia da Luz, observam-se fósseis de plantas em camadas de arenitos de cor forte. Já nas camadas de calcários, os fósseis são de conchas (bivalves e gastrópodes). Ainda mais a nascente, na Ponta das Ferrarias, a rocha escura entre falésias brancas corresponde a uma antiga chaminé vulcânica. O vulcanismo aqui ocorreu há 75 milhões de anos, quando a Península Ibérica chocou contra África, numa rotação relacionada com o movimento das placas. Na Ponta da Piedade, o relevo cársico é impressionante, formando arcos, farilhões e grutas e, numa escala menor, um fino rendilhado que a água de escorrência vai desenhando por dissolução do calcário. Nesta saliência rochosa já existiu um templo romano, um templo mourisco, uma ermida cristã, uma fortificação para defesa da armação de pesca da Torrinha e finalmente um farol. A construção do Farol da Ponta da Piedade terminou em 1913, depois de muitas peripécias que impediram o avanço do projecto, reclamado desde 1883. De facto, para construir o farol, foi necessário demolir o que restava da Ermida de Nossa Senhora da Piedade, o que não agradou a muita gente.

     À chegada a Lagos, somos recebidos pela impressionante vista da meia praia. O forte da Ponta da Bandeira vigia a entrada deste importante porto, onde se iniciou há 6 séculos, a aventura dos Descobrimentos Portugueses. Pode cumprimentar a figura do seu grande impulsionador, o Infante D. Henrique, no Largo que recebeu o seu nome. Entre as suas mãos, o instrumento de navegação, o sextante, refletia o domínio que os portugueses tinham na navegação marítima, muito tempo antes da invenção do GPS! Lagos marca o início de um Algarve mundialmente conhecido como destino de excelência para o turismo de sol e praia, com um património cultural e religioso de excepção, assim como uma vida noturna de grande dinamismo.